quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Maxixe para inglês ouvir, o sucesso de Ernesto Nazareth

Pesquisa revela qual foi a primeira composição brasileira a ganhar o mundo

Instituto Moreira Salles
 
Nazareth, em seu carro: não se sabe se o compositor
ganhou algo pelo sucesso que criou
O primeiro grande sucesso musical brasileiro aconteceu de forma inesperada. Trata-se de Dengoso, um maxixe simples, assinado por um desconhecido chamado Renaud, e publicado sem muito alarde pela Casa Vieira Machado, em 1907, no Rio de Janeiro, como mais um entre os vários do gênero que circulavam entre as casas de edição da época.

Graças a uma pesquisa do Alexandre Dias em andamento há oito anos, descobriu-se agora que Renaud era, na verdade, pseudônimo de Ernesto Nazareth. Pelo que se sabe, Dengoso foi o único maxixe do compositor e chegou até a fazer sucesso moderado no Brasil, tendo três gravações. Mas a história não para por aí: em pouco tempo, o maxixe atravessou o oceano e ganhou fama em Paris. Neste momento, o gênero musical estava se tornando popular na França, sendo inclusive aceita entre a burguesia francesa (depois de um período em que foi estigmatizado como “a mais baixa das danças”). Também se espalhou pela Itália, Alemanha, Espanha e até mesmo Rússia.

Em algumas edições, 'Dengozo' era
chamado de 'parisian maxixe'
A fama foi crescendo até que atingiu seu auge em 1914, quando maxixes brasileiros e estrangeiros eram gravados por diversas bandas americanas e europeias. Entre estas composições, Dengoso era a mais importante: seu número de gravações e execuções ultrapassa qualquer outro maxixe da época, e possivelmente qualquer música brasileira da primeira metade do século 20 no exterior. Segundo o site do Instituto Moreira Salles dedicado aos 150 anos de Nazareth, quando se falava em maxixe em 1914, a melodia que vinha primeiro à mente era o Dengoso, fosse nos EUA ou em Paris.

Segundo a pesquisa, o maxixe Dengoso recebeu pelo menos 31 edições diferentes e 16 gravações entre os anos 1913 e 1917, um número extraordinariamente alto para quaisquer padrões. Chegou até a aparecer em um musical com Fred Astaire e Ginger Rogers (A História de Vernon e Irene Castle, de 1939). O que ainda não se sabe é se, numa época sem internet, Nazareth estava consciente da joia comercial que havia criado – e se chegou a receber royalties por sua composição.

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